Não basta abrir a janela Para ver os campos e o rio. Não é bastante não ser cego Para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma. Com filosofia não há árvores: há ideias apenas. Há só cada um de nós, como uma cave. Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse, Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
O que nós vemos das coisas são as coisas. Porque veríamos nós uma coisa se houvesse outra? Porque é que ver e ouvir seria iludirmo-nos Se ver e ouvir são ver e ouvir?
O essencial é saber ver, Saber ver sem estar a pensar, Saber ver quando se vê, E nem pensar quando se vê, Nem ver quando se pensa.
Mais isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!), Isso exige um estudo profundo, Uma aprendizagem de desaprender E uma seqüestração na liberdade daquele convento De que os poetas dizem que as estrêlas são as freiras eternas E as flôres as penitentes convictas de un só dia, Mas onde afinal as estrêlas não são senão estrêlas Nem as flôres senão flôres, Sendo por isso que lhes chamamos estrêlas e flôres.
Não basta abrir a janela
ResponderEliminarPara ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
Alberto Caeiro
O que nós vemos das coisas são as coisas.
ResponderEliminarPorque veríamos nós uma coisa se houvesse outra?
Porque é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa.
Mais isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma seqüestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrêlas são as freiras eternas
E as flôres as penitentes convictas de un só dia,
Mas onde afinal as estrêlas não são senão estrêlas
Nem as flôres senão flôres,
Sendo por isso que lhes chamamos estrêlas e flôres.
Alberto Caeiro